sábado, 22 de dezembro de 2012

E dorme


Esquece, não pensa.
Apaga a luz e deita.
Envolve-te no escuro
— De fora e de dentro.
Enxuga a lágrima que pelo rosto escorre.
Fecha os olhos sem medo.

Abraça a solidão e dorme. 



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Saudade


Já faz algum tempo que eu perdi uma pessoa especial. Na verdade, não sei quanto tempo faz. Perdi-me no tempo.

Ainda dói pensar que não a tenho mais, que não a encontrarei de novo. Sinto tanta saudade dela. Sinto saudade dos momentos em que ela estava aqui, em que ela me orientava, dos momentos em que eu me sentia bem com ela. Eram meus melhores momentos. Eu tinha meus melhores sorrisos. Mas eu a perdi. Ela se perdeu de mim. Perdi tudo. E eu nem tive a chance de me despedir.

Não sei o que aconteceu, se foi a vida quem errou ou se fui eu que errei. Talvez nós duas tenhamos errado. Falhamos miseravelmente. E eu me puno por isso. Lamento todos os dias essa perda que ainda dói tanto em mim. Choro ao lembrar que tudo poderia ser diferente. Entristeço-me quando penso que as coisas deveriam ser diferentes. Será que elas ainda podem ser?

Eu não sei. Eu queria saber.


Ah, que saudade que eu sinto de mim.

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“— Alô, preciso de uma ambulância.
— Qual a emergência?
— Houve um suicídio.
— Quem é a vítima?
— Sou eu.”
(Do filme Seven pounds).

sábado, 8 de dezembro de 2012

Cheiro de terra molhada


Foi um longo período sem chuva. Da última vez que choveu, ela mal pôde observar a chuva. Nem pôde sentir suas dores se aplacarem com a água trazida do céu. E isso já fazia tanto tempo...

Aqueles primeiros dias de dezembro não davam nenhum indício de chuva. Eram dias longos, quentes, secos, exaustivos. Ela estava exaurida. Cada vez que olhava para o céu, sentia-se ainda pior diante de tanta claridade e de tanto azul. Estava tão acostumada com o cinza que seus olhos doíam quando via um colorido.  

Naquele dia, no entanto, o céu estava diferente, estava mais bonito. Estava cinza. O vento fresco anunciava chuva. E a trouxe. Um trovão. Um relâmpago. Uma expectativa. A chuva. O momento mais sublime dos últimos tempos.

Sentada à janela, apoiou o queixo com a mão e fechou os olhos. Sentiu o cheiro que trazia de volta a sua infância. Lembrou dos banhos de chuva e do quanto se sentia bem com isso. A chuva, que suavemente tocava o chão, trouxe a calma tirada por tantos dias de sol. “A saudade tem cheiro de terra molhada”, pensou ela enquanto abria lentamente os olhos.

Precisava sair daquela sala fechada. Precisava sentir a chuva. Caminhou até a porta e saiu. Sentiu a chuva tocar sua pele. Sentiu cada gota escorrendo pelo corpo e levando embora toda aquela angústia, todo aquele peso, toda aquela sensação de cansaço, todo aquele pesar. Sentia-se purificar.

E naquela tarde caminhou sob o céu nublado e choroso, sem pressa. “Que chova aqui dentro tanto quanto chove aqui fora”. Cheiro de terra molhada, jeito de alma lavada. E o cinza dos seus olhos se confundiu com o cinza do céu.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cansei.


Cansei de me importar com quem não merece.
Cansei de dedicar meus pensamentos a quem sequer lembra que eu existo.
Cansei de guardar na memória momentos que não são meus.
Cansei de roubar sorrisos que não são pra mim.
Cansei de querer sempre o impossível.
Cansei de fazer tudo por quem vale nada.
Cansei de tentar agradar quem não sabe reconhecer.
Cansei de fingir que está tudo bem.
Cansei de sorrir quando na verdade desejo chorar.
Cansei de buscar em outro olhar o reflexo do meu.
Cansei de lutar em batalhas contra mim e contra você.
Cansei de sentir sempre as mesmas angústias.
Cansei de ter sempre os mesmos sentimentos repetidos.
Cansei de tentar entender.
Cansei de querer.
Cansei de insistir.
Cansei de cansar.
Cansei de desistir.

Acho que cansei de tudo.

Acho até que eu me cansei de mim.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Céu de novembro


Novembro e suas angústias, sempre foi assim. Já era fim de tarde, finalmente. Sentara-se à sombra da mangueira para fugir do sol. Descansava os pés descalços na grama fresca. Queria descansar a cabeça, também, mas não conseguia. Aquele havia sido um dos dias mais tensos dos últimos meses. Dia pesado, cansativo, sonolento. Dia anestesiado. Assim como ela se sentia. Fechou os olhos para fugir de si na tentativa de se encontrar em seus pensamentos. 

E se perdeu.

O dia angustiante sem vento aos poucos foi sendo levado pela brisa fresca da noite suave que se aproximava. O vento varria o dia, varria as nuvens, varria as folhas, varria os pensamentos. Sentiu a pele arrepiar. Abriu os olhos e ousou olhar para o alto. Seu olhar encontrou no céu melancólico o refúgio que buscava naquela fuga de si.

O cinza do céu de repente se misturou com o cinza que havia dentro dela.  Naquele instante, já não sabia mais o que era ela e o que era céu. Perdera os limites. Sentiu que de alguma forma pertencia àquela imensidão feita de cinzas. Seus olhos se perderam  na melancolia gris e seus pensamentos se aprofundaram na solidão que carregava em si. Um mergulho, um salto, uma fusão. E tudo se coloriu de cinza.

Sentiu uma breve eternidade naquele momento sublime. Ela o comemorou com lágrimas. E o céu brindou com a chuva. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Memórias mudas


No silêncio dos meus pensamentos
encontrei um arquivo de memórias
gavetas intituladas por medos
e refesteladas de histórias.

Em cada arquivo há uma parte esquecida de mim
Acho que escrevi tudo o que não tive coragem de dizer.
Mas a vida é mesmo contraditória assim:
Guardo em silêncios tudo aquilo que quero esquecer.

Sem titubear lacrei os meus arquivos,
estão interditados até segunda ordem.
Lá escondo até os meus supostos amigos
que me esqueceram nessa desordem.

Escondo, também, minhas desilusões
Amarradas aos meus desamores.
Porque tudo o que não é guardado por dois corações
São apenas lembranças dissabores.


(Escrito juntamente com Mário Lúcio - http://versosdaconsciencia.blogspot.com.br/) 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Silêncios


Espero que você entenda o que eu quis dizer com todas as palavras que calei.

Uso o silêncio como fuga porque vivo cercada por palavras e me cansei de ser presa pelo som da sua voz. Decidi me libertar. Minhas palavras não serão mais suas porque as suas palavras nunca foram minhas.

Falei em vão. Ficarei em silêncio, então. A falta de palavras é nada para quem já vive cheia de ausências. Farei desse silêncio o meu refúgio porque já não caibo na imensidão de tudo aquilo que não disse. Preciso me esvaziar de tanto vazio.

Mas eu escrevo. Escrevo para fugir de mim. Escrevo para não sufocar. Escrevo para aliviar os excessos que trago em toda essa ausência. Escrevo para tirar de mim todas essas palavras guardadas que agora ecoam no meu silêncio. E só.

E as palavras ecoam e escoam e se perdem no vazio deixado pela sua voz.

O problema é que as palavras não ditas também magoam. 
Mas eu já me acostumei a trocar silêncios com você.  

domingo, 16 de setembro de 2012

Olhos negros de setembro



Hoje foi a última vez que vi seus olhos. E isso é estranho, porque ainda me lembro da primeira vez que me perdi neles e desejei que se eternizassem no meu olhar. Mas ontem, quando me abraçou, busquei em seus olhos negros encontrar o brilho dos meus. Não encontrei. Fiquei perdida no vazio do seu olhar. Um olhar que fez estremecer até minha alma. Tive a impressão de que estava se afastando de mim.  E você desviou o olhar do meu. Foi então que suas palavras me atingiram com um golpe que me levou ao chão. Fiquei sentada enquanto elas ecoavam no silêncio do seu olhar fixo em algum lugar distante de mim. “Nada mais é eterno. O amor, a amizade. Adeus”.  E isso doeu.

É uma tarde sufocante de setembro. Sufocada pelo calor e eu sendo sufocada pelas palavras que não pude dizer. Antes de partir, perguntei se por acaso se lembrava de setembro. “No meio de setembro, nós ainda brincávamos na chuva...”, ele disse. Sim, ele se lembrava de nossa infância. O amor, a amizade. Fechei os olhos e as lágrimas se encarregaram de lavar todas as lembranças. O eterno se perdeu quando me perdi do seu olhar. Acho que o eterno se desfez em lágrimas. 

Fiquei encostada na porta enquanto suspirava ao vê-lo se afastar. Sentei e abracei-me. Confesso que não entendi o porquê de seu afastamento, mas deixei que fosse. Perdi meu lugar seguro. Você levou a minha paz. E deixou a saudade. Você levou mais do que deixou e isso não é justo.

Mas, tudo bem. Pode ir. Vá e me deixe aqui com o tempo. Eu só preciso me acostumar com a sua ausência. Eu só preciso aceitar que o eterno já não existe para nós. Preciso entender que já não existe nós. Vou guardar as lembranças de tudo o que foi e de tudo o que poderia ter sido. Vou ficar com a saudade do que vivemos e de tudo o que nunca aconteceu. E não, não olhe para trás. Não me olhe com esses olhos em que me vi durante tanto tempo. As esperanças não são boa companhia para a saudade.

Agora vejo, cada vez mais longe, o menino dos olhos negros. Agora sinto, cada vez mais dentro, o vazio que deixou. Agora ouço, cada vez mais sussurrada, a voz que dizia que me amava. Agora, já não sei de nada. Agora, já não sou.

Mas voltarei a ser. Vou me encontrar de novo. Dessa vez, no meu próprio olhar.

E o eterno se perdeu no meio de setembro. 


*Este "adeus" pertence a Laís Oliveira (@LaisOpS). Ela me emprestou a história, que também é um pouco minha, para que eu lhe desse as palavras. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

De chuva e de pranto


Exatos sessenta e dois dias sem chuva: ela riscara e contara em seu calendário. Não suportava mais tanta sequidão. Do clima e das pessoas. Aquela tarde úmida de setembro estava carregada demais e ela já sabia: finalmente poderia lavar sua alma com a chuva. Desde cedo o céu se preparava para o mais sublime dos fenômenos. O sol tímido assistia a todo o ensaio por detrás das nuvens. Ela observava o dia com uma agonia indescritível. Via-se de longe que ela precisava de uma renovação. O ar pesado e úmido enchia-lhe os pulmões e a fazia cansar. Respirar se tornava algo cada vez mais difícil. Não só por causa do clima. E a menina podia sentir que a tempestade se aproximava.

Sentada na janela do seu quarto, ouviu as primeiras gotas de chuva tocarem o telhado, compondo uma sinfonia que somente ela podia escutar. Durante um tempo, dedicou-se apenas a ouvir aquele som que há muito não embalava seus momentos de calmaria. Fechou os olhos e respirou fundo. Tentou buscar dentro de si tudo aquilo que precisava ser renovado. Queria expor-se às gotas que caíam num ritmo cada vez mais acelerado. Estendeu a mão e as alcançou. Sentiu molhar os dedos, a mão. Arrepiou-se quando uma gota sorrateiramente escorreu-lhe pelo braço. E sorriu.

Abriu os olhos e percebeu que não havia conseguido entregar sua alma à purificação trazida pelas gotas do céu. Havia algo de errado. Isso sempre funcionara... Não entendia por que não era capaz de se libertar, de deixar fluir para o chão todas as coisas ruins que trazia dentro de si. Queria entender por que a água, dessa vez, não a lavava por dentro também. Sentia-se presa em um sentimento ruim. Tinha pensamentos estranhos e queria que a chuva os carregasse para a terra e os enterrasse para que ela pudesse ter paz. Precisava se livrar daquilo que a sufocava. Mas não conseguia. A água estava fria. Ela estava fria. E o sorriso se desfez.

Houve um tempo em que a chuva lavava tudo, por dentro e por fora. Houve um tempo em que o toque frio fazia arrepiar seu corpo quente. Houve um tempo em que o sorriso não se perdia em seus lábios. Houve um tempo em que dias chuvosos lhe traziam alegria, e não ainda mais pesar. Houve um tempo em que ela conseguia se expor à libertação trazida pela chuva. Houve um tempo em que ela não chorava como faz o céu em dias escuros. Houve um tempo em que ela não se sentia sempre tão presa, sempre tão incompleta, sempre tão fria, sempre tão... vazia. Houve um tempo em que as tardes cinzas lhe traziam paz. Em que ela se sentia em paz. Mas há tempo que ela perdeu tudo. Há um tempo que ela perdeu a sua paz. Há tempo que ela se perdera no tempo perdido dentro de si. Eram tantas perdas que ela tinha dúvidas sobre seu reencontro consigo mesma. 

De repente, o dia se pintou de cinza e a tarde se fez noite.

Os relâmpagos riscavam de laranja a negridão do céu. Os trovões ecoavam nos pensamentos vazios da menina. A chuva continuava a descer compassada e melodicamente. A escuridão dominava o cenário daquele drama de um dia sombrio. Com um impulso, desceu da janela e permaneceu imóvel sob a imensidão do céu. 

E a menina se encharcou de chuva e de pranto. 

domingo, 19 de agosto de 2012

Uma data, dois cafés


O relógio na parede atrás do balcão marcava seis da tarde. Parecia um dia interminável. Ele estava atrasado. O relógio também, conferia ela. “Café das cinco”. Era como um ritual de todas as sextas-feiras. Ela já havia pedido os dois cafés, como de costume. “Um com adoçante e outro com três colheres de açúcar, por favor”. Ela conhecia bem seus gostos, já estava habituada às suas manias.

Lembrou-se de quando tomaram café pela primeira vez, uma casualidade. Desde então, ele nunca havia se atrasado. Mas ela sabia que naquele dia, talvez, ele não aparecesse. O primeiro gole dos dois era sempre simultâneo. Era como um ritual. Conversas, toques, risos. Saudade.

Sete horas e a cadeira à sua frente continuava vazia. Finalmente havia terminado aquela tarde quente de inverno. O barzinho começava a se encher. “Posso ocupar esta cadeira?” – alguém perguntava – “Ela está reservada”. E os cafés esfriavam sob seu olhar angustiado. Um olhar que parecia estar deslocado da linearidade do tempo e fixo em um ponto perdido do passado. Ela havia aberto parênteses no tempo. Vozes, risos, silêncios. Memórias.

Um olhar encontrou-se com o dela naquele vazio temporal. Aquele mesmo olhar. Já fazia um ano. “Há quanto tempo” - a mesma voz rouca. “Pois é”. “Pediu meu café”. “Pedi, como sempre”. “Obrigado. O café está frio” – tocou na xícara. “Saudade”. “Estou atrasado”. Eles haviam se encontrado pela data, mas ninguém tocou no assunto. Ela suspirou enquanto observava aquele andar apressado sumir no meio da multidão. Ele amargou seu café com as lembranças e deixou aqueles parênteses abertos no tempo. Saiu sem preencher o espaço vazio da cadeira. Eram muitos vazios a serem preenchidos, na verdade. Tomou, enfim, um gole de cada xícara. Dois cafés, goles dessincronizados. “Alguns parênteses são mesmo difíceis de serem fechados” – pensou enquanto bebia.

Bastou o primeiro gole para ela perceber que café frio tem gosto de solidão. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Agosto


O mês mais angustiante. Agosto havia chegado, ela já sentia. Não precisava consultar o calendário para saber. A noite parecia não ter mais fim naquele dia exaustivo e arrastado. O céu enegrecido não deixava escapar um mínimo ponto de luz sequer. Reinava absoluto em toda sua imensidão. Inundava as estrelas e as encobria com um manto negro. Já não se via limites entre o céu e a terra. 

O vento seco e incessante fazia-lhe fechar os olhos. Ressecava seus lábios. Esvoaçava seus cabelos soltos. Ela não gostava de sentir aquele vento em sua pele porque ele trazia de volta lembranças outrora levadas embora. 

A lua se escondia tímida aos olhos da menina. Lá estava ela, sentada ao pé da mais alta árvore que conhecia. Encostada no tronco escuro e abraçada aos joelhos, era impossível distinguir a menina da noite. Não havia limites que separavam a noite de sua alma. E ela se sentia muito bem assim. Ela se sentia em paz.

Agosto. Ela se lembrava bem desse mês. O que havia lhe acontecido há um ano o tornaria para sempre memorável. Mas ela não gostava de lembrar. Ficava agoniada. Isso lhe tirava a paz conquistada com tanto esforço e depois de muitas lutas. Foi justamente em um agosto perdido no tempo que havia iniciado uma guerra pela paz de seu espírito. Guerra pela paz. Finalmente havia conquistado-a.

E agora estava ali, comemorando sua vitória. Mas estava, ao mesmo tempo, vencida. Toda essa batalha contra si mesma havia esgotado suas forças. Era uma vencedora derrotada. Contradições demais para sua cabeça. Estava exaurida. E aquele vento, que agora soprava gelado e mais intenso, fazia a menina tremer. Arrepiava sua pele. E ela fechava os olhos a cada rajada, abaixava a cabeça e tremia. Queria sair daquele lugar vazio. Precisava de abrigo. Mas, como proteger-se de si mesma? Onde buscaria refúgio daquela luta que travava contra seus próprios pensamentos? Quem a salvaria daquele campo de batalha que era sua alma? Ela vivia em conflito com inimigos que nem sequer podia ver. Eles estavam dentro dela. Ela era seu próprio inimigo.

Ah, menina... Tão ingênua. Pensou que havia, por fim, conquistado sua paz. Estava enganada. Tentou se enganar. Talvez até pudesse esconder seu fracasso em um “tudo bem” aos olhos e ouvidos de outrem, mas jamais poderia escondê-lo de si. De seu espírito.

Agora ela sabia que precisaria enfrentar novamente todos os pensamentos, todos os sentimentos em conflito. E precisava de descanso.

Olhou mais uma vez para aquele céu infinito e suspirou. Num gesto de desânimo, deitou-se na grama úmida. Apoiou a cabeça no braço direito levemente dobrado e repousou o esquerdo junto ao corpo. Fechou os olhos e desejou que aquele vento levasse agosto embora. Adormeceu.

E a densidão da noite envolveu a menina. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Fazendo arte com palavras

Palavras podem ser muito mais do que palavras quando dizem muito mais do que parecem dizer. Eu as admiro. Acho que elas, ao menos, conseguem dizer o que eu não sei. Por isso que escrever é arte.


Para quem não sabe, sou professora. E se há algo que me realiza nesta profissão é quando meus alunos, mais do que me surpreender, se surpreendem com suas próprias produções. Quando disse que trabalharíamos com poesia... “Ah, professora, eu não gosto de poesia”. “Ai, ai”, pensei, “e agora?”. Quando propus que produzissem um poema inspirado nos Classificados poéticos, de Roseana Murray, confesso que fiquei ansiosa para ver os poemas que escreveriam. E não é que eles surpreenderam? A mim e a eles mesmos. Pelo menos foi o que senti (e sei que vocês estão lendo, corrijam-me se eu estiver errada).


Abaixo, os poemas produzidos pelos alunos do 9º ano do Colégio Santo Antônio (Santa Helena – PR).
Espero que gostem tanto quanto eu. 

Procura-se
Um homem
Loiro, de olhos verdes e cabelos longos.
Desde que se foi, só o tenho em pensamentos
E o vejo nos meus sonhos.
Sonhos tão doces.
Caso alguém o encontre,
Mande-o ao bairro da Saudade,
Rua do amor, número 12.
Alanna W. Ricardi
Layne W. Ricardi
  
Classificado
Troco amor por afetos e carinhos
Seja bonito ou feio
Rico ou pobre
Troco se for justo
Com garantia de amor eterno
Se for bem retribuído.
Ana Paula Manica da Luz
  
O coração
Aluga-se um coração
Para alguém que não o machuque
Recebendo a missão de lhe dar
O amor, a paz e a compreensão
Que o cuide como se fosse um diamante.

Cuidado! É delicado...
Sofre, grita e implora
Mas também sorri,
Se emociona e chora

Ela guarda os sentimentos
E os melhores momentos.
Ana Regina Anton

 Vende-se carro
Um dia alguns homens
Plantaram uma semente
Da qual nasceu um carro
Muito surpreendente

O carro é veloz
E não adianta procurar outro
Porque igual não existe
A viagem fica espetacular

Se você quiser comprar
Eu te parabenizo
Pois vai fazer um grande negócio
De amigo para amigo.
Carlos Henrique Junges
  
Rumo ao paraíso
Vende-se um carro
Que acelera rumo ao paraíso
Onde se pode realizar
Os mais lindos sonhos
E até torná-los realidade
Pode ser reabastecido
Por sua própria vontade.

Com ele podes ir até o fim
O fim do arco-íris
No qual irá encontrar
Não um pote de ouro
Mas um baú do tesouro
Recheado de sentimentos.
Eduarda Thaís Tomasi
  
Confeiteiro
Procura-se uma confeiteira
Que possa enfeitar a vida
Adoçar seus amores
E colorir seus sonhos.
Garantia de satisfação ao cliente.
Valor a negociar com você.
Emily M. Goldoni
  
Sentimento à venda
Vende-se um sentimento
Um sentimento neutro
Que ninguém sabe explicar.

Mas eu troco esse sentimento
Pela felicidade,
Desde que você saiba lidar.

A amizade e o carinho
Também estão inclusos
Para você poder aproveitar.

Um pouco de tristeza
Porque forte tem que ser
E poder a vida continuar.
Jennifer V. Saggin
  
Procura-se
Procura-se um mundo melhor,
Onde tudo seja tranquilo,
Onde tudo seja maravilhoso,
Onde tudo seja divino.

Procura-se um mundo melhor,
Um mundo que só tenha paz
Com pessoas amigas e muitos animais.
Um mundo assim... quem me traz?
Jéssica V. Saggin
  
Pintor
Procura-se um pintor
Que não pinta e sim emociona
Que usa as cores mais bonitas
Para clarear o meu dia.

Procura-se um pintor
Com sede de amor
Que usa as cores da noite
Para meu dia alegrar.
Júlia  R. M. Pires
  
Procuradas
Procuram-se pessoas que saibam dar valor
Que ajudem na dor
E que o façam por amor.

Procuram-se pessoas carinhosas
E não precisam estar perto
Para serem amorosas.

Enfim, procuram-se pessoas queridas
Que sejam nossas amigas
E façam parte das nossas vidas.
Keoma C. Vianna
  
Vende-se
Vende-se um carro
Um carro econômico
Não gasta com nada
Um carro invisível
Mas realiza seus sonhos
Até os impossíveis.
Lucas Pelizza Carrer
  
Eletricista
Procura-se eletricista
Que acenda luzes
Para pessoas que estão apagadas.
Necessitamos de uma pessoa especializada
Em acender sonhos
Para os desiludidos
Precisamos reacender o amor
Entre casais e famílias que estão em crise.
Favor entrar em contato
Para reacender vidas.
Maria Eduarda Sassi de Souza

 Vendem-se sonhos
Sou um vendedor
Mas não um vendedor qualquer
Sou vendedor de sonhos
Mais conhecido por “doutor”.

Trabalhava em qualquer clima
Muitos não acreditavam em mim
Mas dei a volta por cima.

Não sou um mágico
Porque não faço truques
Realizo sonhos, bons ou trágicos.
Maycon A. Härter
  
Desaparecidos
Procura-se o amor
Só gostaria de saber onde ele está...
Será que está se escondendo?
Mas por quê, se ele sabe que faz bem às pessoas?
Procura-se a felicidade
Hei, felicidade, cadê você?
Por que você sumiu daqui?
Sabe, eu vivia muito bem quando você estava aqui.
Procura-se a fidelidade
Você também anda sumida...
Por que não volta pra cá? Todos te procuram.
Tendo fidelidade, tem amor verdadeiro. E tem felicidade, também.
Hei, vendedor de sonhos, traga isso tudo para nós, estamos precisando.
Você está demorando...
Coloque amor no coração das pessoas. E fidelidade, também, pois elas não estão dando valor aos sentimentos.
Hei, vendedor de sonhos, na verdade o que precisamos mesmo é de uma dose de desapego. Mas isso é só com o tempo mesmo.
Milena F. Weide

 Vendedor
Vende-se uma bolsa
Que guarda todos os seus sentimentos
Todas as recordações
Mas não guarda as angústias
E muito menos ressentimentos.

Se você está interessado
Sabe onde achar
Siga seu coração
Para o vendedor encontrar.
Moacir Coppini Jr.
  
Compro
Compro o ar,
Compro o vento
Compro a menina do meu pensamento.

Quando a vejo,
Desperta um desejo
Eu fico louco
Querendo o seu beijo.

Mas ela ninguém vai comprar
Pois a menina só eu posso imaginar.
Orlando Urbano Neto
  
Palhaço
Procura-se um palhaço
Que tenha apenas um braço
Para poder animar e aproveitar
Aquele único momento.

Braço pequeno
Coração enorme
Com qualquer roupa ele faz seu uniforme.
Vinícius Mateus

Nestes poemas, mesmo sem vender ou trocar algum sentimento, há uma oferta imperdível de belas palavras.  
Sonhador
O sonhador
Cheio de ilusão e de fantasia
Cheio de paz e de alegria
Cheio de vida!
Refugia-se num mundo
Onde tudo é possível
Onde não existe uma bruxa má
Onde não existem o ódio nem o rancor
Onde não existe a dor
Onde há um final feliz
Onde há abraços e beijos
Onde há compreensão e carisma
Onde há esperança
O sonhador...
Ana Regina Anton

 Janela da vida
Naquela janela
Vi o tempo passar
Dia pós dia
Noite pós noite.

Certos dias
Nem vi a imensidão
Do céu azul
Pois havia muitas nuvens.

Naquela janela
Eu nasci
Naquela janela
Eu vivi
Naquela janela
Eu morri

Mas morri pensando
“O que seria dela sem mim?
E o que seria de mim sem ela?”.
Ilzo F. Figueiredo Filho
  
Outro lugar
Às vezes quero estar em outro lugar
Em outro lar, em outro ar
Um ar de felicidade, simplicidade e lealdade.

Às vezes contigo quero estar
Quero ficar, amar e adorar
Me apaixonar e voar
Em outro lugar.

Quero nas nuvens viajar
Mas, como no sol não há um mar,
Aqui deve ser o meu lugar.
Thaís Allegretti
  
A eterna amizade
Meus dias se passam
e percebo que
sem meus amigos
não vivo.

Eles são especiais,
únicos e incríveis
cada um com seu jeito.

Amo suas risadas.
Com os seus jeitos de falar
Que me animam e me deixam confortada.
Valéria Michelle N. Huang

O que meus olhos veem
Por que você é tão lindo?
Seus olhos azuis me encantam
Assim como quando vejo os pássaros cantando
Por que você é tão lindo?

Você, só você e mais ninguém
Me prende de um jeito que me faz refém.
Vanessa M. Henchen