sábado, 22 de dezembro de 2012

E dorme


Esquece, não pensa.
Apaga a luz e deita.
Envolve-te no escuro
— De fora e de dentro.
Enxuga a lágrima que pelo rosto escorre.
Fecha os olhos sem medo.

Abraça a solidão e dorme. 



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Saudade


Já faz algum tempo que eu perdi uma pessoa especial. Na verdade, não sei quanto tempo faz. Perdi-me no tempo.

Ainda dói pensar que não a tenho mais, que não a encontrarei de novo. Sinto tanta saudade dela. Sinto saudade dos momentos em que ela estava aqui, em que ela me orientava, dos momentos em que eu me sentia bem com ela. Eram meus melhores momentos. Eu tinha meus melhores sorrisos. Mas eu a perdi. Ela se perdeu de mim. Perdi tudo. E eu nem tive a chance de me despedir.

Não sei o que aconteceu, se foi a vida quem errou ou se fui eu que errei. Talvez nós duas tenhamos errado. Falhamos miseravelmente. E eu me puno por isso. Lamento todos os dias essa perda que ainda dói tanto em mim. Choro ao lembrar que tudo poderia ser diferente. Entristeço-me quando penso que as coisas deveriam ser diferentes. Será que elas ainda podem ser?

Eu não sei. Eu queria saber.


Ah, que saudade que eu sinto de mim.

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“— Alô, preciso de uma ambulância.
— Qual a emergência?
— Houve um suicídio.
— Quem é a vítima?
— Sou eu.”
(Do filme Seven pounds).

sábado, 8 de dezembro de 2012

Cheiro de terra molhada


Foi um longo período sem chuva. Da última vez que choveu, ela mal pôde observar a chuva. Nem pôde sentir suas dores se aplacarem com a água trazida do céu. E isso já fazia tanto tempo...

Aqueles primeiros dias de dezembro não davam nenhum indício de chuva. Eram dias longos, quentes, secos, exaustivos. Ela estava exaurida. Cada vez que olhava para o céu, sentia-se ainda pior diante de tanta claridade e de tanto azul. Estava tão acostumada com o cinza que seus olhos doíam quando via um colorido.  

Naquele dia, no entanto, o céu estava diferente, estava mais bonito. Estava cinza. O vento fresco anunciava chuva. E a trouxe. Um trovão. Um relâmpago. Uma expectativa. A chuva. O momento mais sublime dos últimos tempos.

Sentada à janela, apoiou o queixo com a mão e fechou os olhos. Sentiu o cheiro que trazia de volta a sua infância. Lembrou dos banhos de chuva e do quanto se sentia bem com isso. A chuva, que suavemente tocava o chão, trouxe a calma tirada por tantos dias de sol. “A saudade tem cheiro de terra molhada”, pensou ela enquanto abria lentamente os olhos.

Precisava sair daquela sala fechada. Precisava sentir a chuva. Caminhou até a porta e saiu. Sentiu a chuva tocar sua pele. Sentiu cada gota escorrendo pelo corpo e levando embora toda aquela angústia, todo aquele peso, toda aquela sensação de cansaço, todo aquele pesar. Sentia-se purificar.

E naquela tarde caminhou sob o céu nublado e choroso, sem pressa. “Que chova aqui dentro tanto quanto chove aqui fora”. Cheiro de terra molhada, jeito de alma lavada. E o cinza dos seus olhos se confundiu com o cinza do céu.