terça-feira, 15 de outubro de 2013

Queimemo-nos

A ebriedade daquela madrugada me torturava a cada segundo que se passava. O silêncio que tomou meu quarto em chamas — porém tão frio  me fez imaginar a perda daquilo que jamais ostentei ter ganho, e sobretudo, a possibilidade de se tornar vitalício um amor sem sal, sem açúcar  sem nada. Perderam-se por entre as confusões mentais pelas quais eu passo diariamente todos os direitos e deveres que me foram impostos para levar uma relação estranhamente desamorosa por algum tempo.

A verdade é que eu não sei lidar.

As palavras que por puro impulso escorrem por entre meus dedos sempre serviram como meu ponto de fuga. Quem nunca fugiu zigue-zagueando as vírgulas e se despediu a cada parágrafo? Foram inúmeras as vezes em que falei dos meus amores com uma pitada de ódio, até porque a própria vida tem seus momentos de escuridão. Embriaguez mental.

Enche-se o copo com dois litros de alma gelada e tomam-se os corpos com o líquido mais quente que existe. Sua frieza quase me congelava, seu fogo sempre me consumia. E o quarto continua em chamas — mas gelado sem você.

Bebi sua saudade, tomei nossas lembranças, quase me afoguei no vômito daquilo que um dia foi o nosso amor. Embriaguei-me de você outra vez. Tudo em volta gira e me traz você, tudo o que tenho é o que você não levou quando se afastou de mim deixando-me apenas com a esperança de que um dia voltaria. Tem noção do quão ridículo me senti vestindo-me apenas com esperanças? Você desnudou meus sentimentos e me despiu de todo e qualquer amor próprio. Agora, tudo o que desejo é que esse fogo me consuma junto com as lembranças de tudo o que um dia foi nosso, de tudo o que ainda me prende a nós.


(Texto escrito com Guilherme Latorres (@inaptidao) que sabe dar às palavras um ar de encantamento).

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